"Somente aquele que saboreou a liberdade pode desejar tornar tudo análogo a ela e estendê-la por todo o universo. Quem chega à filosofia por qualquer outra via nada mais fez do que imitar os atos de outro sem possuir o sentimento dos motivos que os inspiram." [1]
O que significa propriamente filosofar? O que o pensamento pretende ao dizer seu pensamento? Como o pensamento pode dizer e assim salvaguardar a partir das palavras, um discurso que se refere ao Sentido de Ser, ao sentido que ncada existência pode ter e suas mais próprias possibilidades?
As perguntas não se sucedem apenas, o pensamento precisa de paciência para se construir. Toda primeira questão precisa ser vasculhada num aprofundamento que vise “enchergar claro naquilo que é” [2], ou seja, pensar significa pensar tudo o que é em referência a sua proveniência, na busca de uma compreensão mais plena desta própria proveniência.
Mas o pensamento é no fundo uma conclamação. Esse é, dito de forma grega, seu Télos. O pensamento não termina na compreensão da proveniência por parte do filósofo, mas sim numa convocação. Pensando o pensamento visa convocar todos os mortais a essa própria proveniência. O pensamento é por isso uma pro-vocação que com-voca.
Mas para onde pro-voca o pensamento e para que pro-voca?
O pensamento con-voca para uma habitação mais própria. O pensamento pro-voca a todos os mortais a um aprofundamento, a uma retomada do sentido de cada existência em particular. O pensamento é, por isso, não apenas livre mas também libertador.
Mas essa não é uma bondade do pensador. Não estamos defendendo aqui nenhuma função divina ao pensamento, como algo separado do mundo em que vivemos. O pensamento não é contemplação, ele é ação. Ele é vivo e traz como mensagem um sinal que visa tocar cada existência em particular para sua tarefa humana. Porque, apenas em um mundo em que todos estão empenhados pelo jogo próprio da existência – que é em sua essência político – podemos ter a garantia de que aquilo que realmente liberta os homens, aquilo que fala a partir da essência da habitação humana se preservará na história como um caminho aberto a cada existência que se dispõe a questionar o sentido de sua própria existência. Porque a ação do pensamento carece de tempo para acontecer como uma provocação de fato, ele depende de uma salvaguarda, que está além de sua existência e por isso carece de ser salvaguardada pelos mortais para um acontecimento de fato no porvir. Por isso, o pensamento é o ato por excelência, uma vez que ele é também o ato político mais radical. Trata-se de uma ação que precisa ultrapassar a própria existência de onde brota para que possa tornar-se um pensamento, uma provocação, um caminho de libertação. Por isso, ela carece da confiança do mundo, que é sustentado não só por um homem, mas é compartilhado por todos.
Por isso, poderíamos dizer que o pensamento não questiona apenas. Questionando ele pretende provocar um questionamento e com isso libertar os homens. O que ele mostra, a partir de sua própria experiência é o caminho a partir do qual a existência pode levar à história toda a liberdade do Ser
Por muito tempo permaneceu impensada a relação entre o sábio e o político, proposta por Platão no “Sofista/Político”, publicado há mais de 2.000 anos atrás. Talvez essa seja uma vereda possível para uma compreensão mais aprofundada desta relação, que agora nos brilha em toda a sua claridade como uma relação de fato decisiva para cada homem em particular e para todos em comum. Como essa é uma possibilidade de todo homem, isso apenas pode nos encher de esperança. Todos nós estamos destinados ao mesmo destino: a Morte. Por isso, o máximo que podemos fazer é cumprimos nossa tarefa de libertar os homens para um mundo que pode sim, ele mesmo, um dia tornar-se uma obra divina de mortais. Algo que poderia até receber o nome de Democracia, desde que ela seja o lugar onde a excelência humana poderá acontecer e se preservar acontecendo em toda a sua plenitude.
Robson Rocha
Pensar e liberta-se do imediatismo desse mundo e confrontar-se com os aspectos mais profundos das coisas ou dos seres, e com certeza já é uma ação.
ResponderExcluirTalvez também libertar-se das amarras que nós mesmos nos pomos ao nos fecharmos em nós mesmos. O mundo é o que o pensador sempre pretende transformar, mas ele só pode fazê-lo quando se torna capaz de tocar aqueles com os quais ele compartilha esse mundo: os outros homens. Pensar, portanto, é na verdade a ação mais radical do homem. Exercendo-a o homem sente a insuperável necessidade de ir além de si provocando os homens para um compartilhamento mais apropriado do mundo.
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