Desfaço o compasso dos passos sincopados, puro acinte.
Pra que tantas pernas bamboleiam sobre paralelepípedos quentes?
No inverno, a cidade se esconde maculada com manchas de verão
adquiridas ao longo da longa e libidinosa estação da febre
causada por mosquitos calor e desejo.
A imundície se prolifera sobre o asfalto
entre becos, galerias e vielas fumacentas, cinzentas,
decadentes, povoadas pelo lixo social
que não desceu o ralo do esgoto.
Como o caso da família que mora em cima do papelão
bem em frente ao banco central.
Pai, mulher grávida, três meninas dois meninos
gato, cachorro trempe e coragem.
Ontem fui lá e saquei quinhentos reais, era o limite.
Pensei em dar uns vintinho pra família comer alguma coisa
mas mamãe disse que a desgraça dos outros não é culpa nossa.
Parece que o tal deus quis assim.
Além do mais, maninha sempre diz que dar esmola auxilia a vadiagem.
Não vivemos na idade média, todos tem oportunidades iguais
diz ela, como grande conhecedora da idade média.
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